“A Alegria e Esperança da Páscoa de Jesus” por Simão Pedro
A Semana Santa com a Páscoa sempre foi para mim uma coisa triste e alegre ao mesmo tempo. Uma mistura importante de sentimentos, onde entram também a indignação, a revolta, mas também a euforia e a esperança. Evidente que isso tudo é provocado pela história de Jesus, conforme relatam os Evangelhos, especialmente o de Lucas, que é mais cronológico e uma espécie de reportagem da última semana da vida do nosso Mestre.
São comoventes os episódios da demonstração de profundo carinho e amor de Jesus pelas pessoas, pelo povo, pelos seres humanos. E também pelos animais e a natureza. “Olhai os pássaros no céu e os lírios do campo…”, a ponto de se decidir a entregar a própria vida em prol de uma causa maior que é a construção do Reino de Deus para que as pessoas, principalmente os pobres e desprezados por quem ele tinha uma afeição maior, pudessem parar de sofrer e serem felizes, cultivando a esperança de uma “vida plena”. E como ele era generoso com todas e todos!
A revolta é ver como a Mensagem de Jesus causava medo e ódio na cabeça e coração dos poderosos, dos privilegiados, dos que mandavam, sejam eles religiosos (doutores da Lei, sumo sacerdotes) ou políticos (imperador, reis, pôncios). Estes tramavam o tempo inteiro contra ele, criando emboscadas, pegadinhas, situações ardilosas, tentando jogar o povo contra ele, até quando não mais quiseram correr o risco de ele despertar uma consciência total no povo e, tramando nos bastidores dos palácios e mansões, subornando um discípulo, o prenderam, torturaram, fizeram um julgamento fajuto, o humilharam diante do povo e o condenaram ao suplício da morte na cruz, que era a pena pelo crime de sedição, ou seja, tramar contra a integridade do poder do império e seus aliados. Revolta também de perceber a crueldade desses (coisas que ainda acontecem até hoje nas guerras, nas ditaduras, nas “operações” policiais) de, baseados na mentira, na defesa de falsas causas, com sarcasmo, torturarem uma pessoa, levá-la ao suplício e até à morte cruel, até sentirem prazer no sofrimento do outro que lhes é subjugado. É a parte mais horrível do ser humano.
Para contrabalancear esse comportamento ruim, há inúmeros relatos também maravilhoso da bondade, esperança e generosidade de tantas outras pessoas para com Jesus: a família que cedeu o jumentinho para ele entrar em Jerusalém no Domingo de Ramos, a alegria da multidão que o acompanhou no trajeto, o cirineu que ajudou-lhe a carregar o pesado madeiro para aliviar o peso depois da noite de torturas, Nicodemos que pede às autoridades para tirar o corpo de Jesus da cruz e dar-lhe um túmulo digno, as mulheres e discípulos que o acompanharam até a cruz…
Mas aí é que tá! Se Jesus tinha consciência de que seria inevitável que sua pregação de um mundo melhor, baseado na compreensão das fraquezas humanas e no perdão, na solidariedade e partilha dos bens, na paz, no respeito entre as pessoas, na relação entre as pessoas a partir da verdade de que Deus é o pai maior e amoroso e que somos todos seus filhos e por isso somos iguais e devemos nos tratar como irmãos, na ideia de que aqueles que detém poder na sociedade têm que usar isso para servir ao povo e não para ter privilégios sobre os demais (foi o que ele buscou mostrar na “cerimônia do Lava-pés”, quando, sendo o maior, agachou e lavou os pés dos discípulos), o levaria à prisão, sofrimento e morte terrível, ele também tinha a certeza de que ressuscitaria, venceria a morte e deixaria claro o fracasso do plano dos poderosos da época de sufocarem a Verdade, de impedirem a nova mensagem religiosa e política, da necessidade de uma sociedade fundada sobre noves valores e no princípio fundamental do “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo!”.
Essa é a alegria, a euforia da Páscoa: a passagem de uma vida de sofrimento e morte para outra de vida plena. E foi isso o que aconteceu: Jesus morreu, mas ressuscitou! Os Evangelhos narram que, ao alvorecer do dia depois do sábado, as mulheres suas discípulas foram ao sepulcro e ouviram de um anjo: “Não tenhais medo!”. E Jesus foi encontrá-las e disse: “Alegrai-vos!”. Bom, sua mensagem, ensinamentos e exemplo se alastraram por toda a Palestina da época, chegou em todos os cantos do Império Romano, se sobrepôs aos grandes sistemas de pensamento da época, o judaísmo e a filosofia grega. De uma “religião de escravos” no início, chegou a virar “religião oficial do Império” e hoje, infelizmente, é até deturpada com a ideia de um Jesus etéreo, de relação individualista, de ensinamento vazio e sem consequências. Mas isso não importa. O que importa mesmo é sua mensagem original, que está lá contextualizada nos Evangelhos. Essa é a que venceu!
Mas como quase tudo neste mundo é transformado ou misturado e assimilado, a festa da Páscoa, ou Passagem, da “terra da escravidão no Egito para a Terra Prometida de Israel” do judaísmo e da vida de sofrimento e morte para a vida plena e eterna do cristianismo, com o passar do tempo também ganhou novas significações, como os signos de sorte e fertilidade, simbolizados no ovo e no coelhinho e na delícia do chocolate.
Reflexões sobre a humanidade, nossa existência aqui na Terra e o sentido de tudo isso são muito importantes, mas o que prevalece na Páscoa é a alegria de saber que nenhum sistema de morte, a necropolítica, prevalecerá, muito pelo contrário, e que merecemos e teremos uma vida plena se assim acreditarmos!
Boa Páscoa à todas e todos!